A presente análise tem como objetivo a interação com os demais cursistas das diferentes áreas do conhecimento com o propósito de discutir sobre interdisciplinaridade através dos diferentes gêneros textuais, logo após realizar uma apresentação em grupos sobre o vídeo de “BERTAZZO”, em seguida postar reflexões acerca do segundo encontro presencial, referente ao Curso do REDEFOR, realizado na Diretoria de Ensino Guarulhos Norte, São Paulo, em 19 de março de 2011, das 09: 00 às 13: 00 h.
Neste sentido abordaremos sobre importância dos múltiplos letramentos existentes na “ARTE DO CORPO” ou dizendo de outra forma, a expressão corporal, na elaboração de sentidos, conforme o proposto pela função-autor, para atingir os objetivos esperados da função efeito-leitor. Para tal, nosso foco de atuação centraliza-se no espetáculo idealizado por IVALDO BERTAZZO, no “SESC” Piracicaba, em um trabalho realizado com 55 alunos (Marcela Benvegnu, jornalista), moradores na periferia, da Zona Leste (da Cidade Tiradentes) e mais sete outras regiões de São Paulo.
Segundo; BERTAZZO, o “Cidadão Dançante” mostra que o corpo é uma ferramenta de comunicação e que não pode ser ignorado. “Precisamos do corpo” para o trabalho, de qualquer tipo. Mesmo sentado em uma cadeira de escritório, “precisamos do corpo”, de uma postura adequada, concentração para o que pretendemos fazer, entre outras ações.
Artisticamente, o conceito de “Cidadão Dançante” traz níveis expressivos diferentes do que estamos habituados a ver e o público paga para assistir uma pessoa que é igual a ele, que investiu meses em uma qualidade, ou seja, o homem tomando consciência do cuidar do corpo, enquanto principal ferramenta de atuação para qualquer manifestação de sentidos ou desejos de qualquer espécie.
“BERTAZZO”, conhecido também, como “O Homem Dançarino”, percorreu várias ONGS, como exemplos: Ação Comunitária Tiradentes, Associação Novolhar, Projeto Samaritano São Francisco de Assis, Centro de Educação Popular de Nossa Senhora Aparecida, Associação Sarambeque, Movimento de Promoção Humana Arrastão e Fundação Gol de Letra de São Paulo, todas desenvolvem projetos de ações sociais voltados para auxiliar as escolas na complementação de estudos, utilizando a expressão corporal nas mais variadas formas de atividades lúdicas, como por exemplos: a dança, a música, o ballet, a capoeira, o futebol, entre outras atividades.
Durante visitas a essas ONGS, foi o momento onde BERTAZZO, teve a oportunidade de compartilhar o cotidiano de alunos da periferia de São Paulo, e outras regiões. A partir de então, observou diferentes realidades, tais como; miséria, fome, baixa estima dos alunos, falta de interesse, falta de vocabulário, entre outros problemas que foram motivos de reflexão.
Após esta reflexão, suscitou uma ideia, de um projeto que contemplasse uma mudança da vida desses alunos, ativando os conhecimentos prévios (arte, dança, a capoeira) o que resultou em inscrição; de cento e cinquenta adolescentes, com o objetivo de iniciar ações do projeto “DANÇA COMUNIDADE”.
“SAMWAAD”, (palavra de origem hindu, que significa harmonia) é um espetáculo que comprova a ação da combinação entre o corpo e as diferentes áreas do conhecimento, pois durante meses de ensaios (oito meses), os alunos tinham aulas referentes à música, à arte, à dança, coreografias, origami, linguística aplicada ao estudo dos instrumentos utilizados nos estudos das coreografias (contextualização) que compunham o espetáculo, além das atividades de alongamento antes e depois dos ensaios (Acordos).
A música é apresentada utilizando como referência as sagradas escrituras do hinduísmo, abordando as formas de comunicação entre os instrumentos, como eles se interagem de maneira que assim como, os integrantes do espetáculo, assumem seus papéis na harmonia individual (sequência dos instrumentos) para a construção do TODO e sabendo o momento certo para entrar em cena. Da mesma forma, os instrumentos integram-se em compassos adequados às notas musicais, permitindo um maravilhoso espetáculo de interação de diferentes culturas (interdisciplinaridade) apresentada a partir de movimentos gestuais, o espaço dos movimentos e a construção de uma serpente formada pelos corpos que estão em movimento (modo de formulação do espetáculo).
A construção de um trabalho desta categoria exigiu muito, tanto de BERTAZZO (coreógrafo), como também da equipe de auxiliares e especialmente dos alunos, um compromisso, dedicação, treinamento, emoção, estudos diários de novos vocábulos (função-autor adequada ao projeto e ao discurso dos instrumentos musicais), que aos poucos foram sendo incorporados na comunidade onde moram (interdiscursos), passando a ser um diferencial entre os demais jovens da mesma comunidade e até mesmo para aqueles (os cento e dez alunos) que ao longo dos duros ensaios e estudos rigorosos (oito meses), e outros fatores particulares, acabaram desistindo do projeto (evasão).
Em suma, o espetáculo permite ao telespectador uma compreensão global da história e importância da música, da arte, do corpo e a linguagem como identidade pessoal do indivíduo, através das diferentes aprendizagens contextualizadas, a exploração dos variados sons e as notas musicais apresentadas num trabalho de equipe, unificando culturas, linguagens discursivas, gestuais, visuais e outros contemplados pelo corpo e seus movimentos como forma de expressividade comum a qualquer cultura.
Os cinquenta e cinco alunos que apresentaram o espetáculo, são alunos que puderam construir um novo significado para suas vidas, através do conhecimento de mundo já adquirido, sendo ampliado com a “Arte” no projeto “Dança Comunidade”.
Comprovando assim, a importância da associação de diferentes aprendizagens na construção protagonista dos educandos para a formação de seu próprio conhecimento ou currículo.
Continuando a contextualização do projeto, “DANÇA COMUNIDADE”, e o espetáculo SAMWAA, para nossa prática pedagógica, sua origem, função–autor, efeito-leitor, composição textual, discursivização utilizada (expressão oral, corporal, e sentimentos), a organização, o estímulo aos alunos, exposição sobre a razão do projeto aos alunos e a comunidade, as parcerias encontradas e acompanhadas pelas diferentes “ONGS”, que já realizavam atividades semelhantes, podemos observar que são ações que contemplam o currículo.
Os registros de evolução dos ensaios, acompanhamentos, levantamento de dúvidas, feedbacks e orientações (replanejamento) para uma melhor compreensão dos movimentos que deveriam ser apreendidos pelos alunos, valorização pessoal de todos os envolvidos no projeto, estímulo e cumprimento dos contratos elaborados, foram primordiais para conquistar o objetivo do projeto e atingir a função-efeito-leitor.
Observa-se então, que os fatores de gerenciamento do projeto, dirigido por BERTAZZO (função-autor), revelam a importância de um trabalho interdisciplinar, onde cada membro das equipes organiza grupos de pesquisa (as notas musicais e os instrumentos) e trabalhos voltados a garantir a aprendizagem ou diferentes formas de apresentação do conhecimento (revisar conteúdos dizendo de outra forma, e não somente repetir o discurso, sem significação) por áreas diferentes do conhecimento e principalmente, o desenvolvimento das habilidades corporais, não importando o tema a ser explorado dentro do recinto escolar; pois, sabemos que as multissemioses estão presentes em todos os espaços alcançados pelo homem no mundo globalizado do século XXI, permitindo o encontro de linguagens distantes no tempo e no mundo, com o uso apenas de um click na internet.
Embora o projeto de BERTAZZO contemple a intercomunicação de diferentes culturas através da música, da dança e da arte, percebe-se que há uma prioridade maior dedicada à cultura hindu; haja vista, a função-autor desde o início do título (SAMWAAD), que é um vocábulo indianista, cujo significado é “Harmonia”. Aqui, BERTAZZO, já previa a função efeito-leitor, quando optou pela palavra e efeitos de sentidos da “HARMONIA”.
A seguir, no interior do texto para suporte do encontro (REDEFOR) referente a comanda da atividade aparecem expressões como: “A batucada se instaura, mas o corpo não a segue”, temos aí mais um exemplo da importância da linguagem e a música como (A Linguagem do Corpo como voz que fala mais alto, que os instrumentos musicais), ou seja; o “CORPO”, representando a identidade cultural e as suas origens através da “ARTE”; (A seguir ela cede e finalmente faz a roda, de acordo com o enunciado proposto, sem com isso, no entanto; abandonar os gestos hindus), temos aí a cultura Hindu, com traços africanos, confirmando sua importância dentro da cultura brasileira e suas origens histórico-sociais.
O espetáculo, como um todo da análise, permite diferentes formas de interpretação, devido à polissemia presente na linguagem corporal e musical, por meio dos gêneros discursivos utilizados no decorrer da progressão textual (corpo e instrumentos). Percebe-se também (durante a apresentação da batucada) que o número de instrumentos, iguais, aos mesmos que representam as oito notas musicais (dó, ré, mi, fá, sol. lá, si, dó) e a progressão sonora se dá de igual modo, inclusive se repete a última nota (dó).
“MDHAVI MUDGAL” de origem hindu, bailarina, representa com a utilização de seu corpo através da dança, o próprio “CORPO EM MOVIMENTOS” representando a voz que fala mais alto, mais uma vez justificando-se através de diferentes formas discursos possíveis através da característica universal da dança e música, comuns para diferentes culturas.
“SANTA MORENA”, o chorinho: a cultura hindu impera absoluta no início: na dança e na música (voz, cítara e teclados típicos), quando a voz começa a entoar a melodia, de Jacob do Bandolim, um dos maiores ícones de nossa literatura instrumental, com uma sonoridade limpa, a capacidade de falar pelo beliscado das cordas e a criatividade necessária a contrapontos únicos, dialogando com cantores quando, em segundo plano, deram-lhe a condição de imortal de nossa música.
As riquezas culturais e multidisciplinares em diversas áreas do conhecimento permite-nos pensar no espetáculo produzido por “BERTAZZO”, uma verdadeira escola em funcionamento. Uma escola diferente, condizente com a sua função autor, oportunizando espaços de aprendizagem coerentes à realidade dos nossos alunos e principalmente oferece condições de reconhecimento de si (seu corpo) e do outro (os corpos dos outros participantes do espetáculo), quando face a face, possibilita a visão de igualdade entre todos os seres humanos, independente de credos religiosos, culturas, língua, entre outros preconceitos, que habitam o interior da sala de aula.
Finalizando, o encontro presencial foi muito relevante no sentido de ampliar novos recursos midiáticos para somar às nossas propostas de atividades (planos de aulas), observar o outro e suas concepções sobre as atividades do curso (REDEFOR), porém de maior relevância é concedida à apresentação do vídeo “Globo Repórter”, e à apresentação do grande espetáculo de “IVALDO BERTAZZO”, capaz de comprovar a importância de um trabalho de equipe (A construção da serpente, os acordes e harmonia de sons, entre outros), para conquistarmos uma harmonia entre o fazer pedagógico e o fazer do aluno respeitando-se o espaço de aquisição dos gestos da construção do conhecimento, pois como vimos cada um construiu sua aprendizagem conforme seu tempo, assim como os instrumentos produzem sons em notas musicais iguais ou diferentes.
Enfim, o espetáculo possibilitou-nos uma reflexão acerca dos estudos do módulo dois (REDEFOR) contemplados através dos processos de discursivização da língua, a interação dos povos e culturas diferentes da linguagem representada pelo corpo em movimento, as formatações para significação de sentidos para o aluno, as sequências textuais de apresentação dos instrumentos ou ensaios com os alunos, a contextualização associada ao conhecimento de mundo do aluno para a inserção da função autor, efeito-leitor, a importância da integração social e do conhecimento para fazer com que a autonomia do uso das palavras e da língua para produzir efeitos de sentido em suas vidas.
E assim sendo, conquistar a autonomia discursiva necessária para que possam saber levar essa nova linguagem apreendida e outras, para os locais sociais e discursivos que lhes sejam conferidos, e principalmente saibam construir novas ideias, capazes de protagonizar novos conhecimentos a partir da habilidade leitora e escritora.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENVEGNU, Marcela, 2011 in (Universidade Federal da Bahia), fonte REDEFOR. (http://www.youtube.com/watch?v=JZC_yi932Ls)(http://www2.uol.com.br/tododia/ano2004/novembro/021104/marcela.htm) acesso em 22/03/2011