TÍTULO:
“PERSPECTIVAS PARA ABORDAGENS DA ESCRITA”
O
ato da escrita envolve uma sequência de procedimentos cognitivos e ativação
neurolinguística. A apropriação da escrita é um processo complexo e
multifacetado, que envolve tanto o domínio do sistema alfabético/ortográfico
quanto à compreensão e o uso efetivo e autônomo (MARCUSCHI, 2008) da língua
escrita em práticas sociais diversificadas. O processo cognitivo é acionado a
partir da intenção de produção do texto com o objetivo de realizar a
comunicação (processo de interação entre emissor e receptor) desejada para
aquele texto.
Para
Bakhtin (1997), todas as atividades humanas estão relacionadas ao uso da língua
e daí a diversidade de usos e, consequentemente, a diversidade de gêneros que
se apresentam inumeráveis. O autor também salienta que toda essa atividade se
apresenta por meio de enunciados concretos e únicos que emanam dos integrantes
de uma ou de outra esfera da atividade humana. A variedade de uso da língua
interliga-se à variedade de situações e contextos da vida cotidiana.
Nesse
sentido, ensino-aprendizagem da escrita não pode ser desvinculado daquilo que o
aluno já sabe sobre o assunto, cujo tema seja o foco das práticas de redação. A
escrita não pode ser concebida como algo desvinculado da vivência de mundo
daquele que a produz, mas necessita levar se em consideração os conhecimentos
internalizados pelo indivíduo e o seu meio social, pois toda intenção de
escrita surge da necessidade de comunicação entre o autor, o texto e seus
interlocutores.
É
segundo essa intencionalidade; que o produtor de um texto deverá observar os
caminhos percorridos para torná-lo objeto de comunicação verificando as
condições de produção, as vias de circulação do texto (local social), as
informações que o receptor reconhece sobre o texto, os recursos que serão
utilizados para que o mesmo venha contribuir para a prática social, ou seja, é
preciso que o texto produzido tenha um significado real de contextualização
para que certos conhecimentos apreendidos venham ser ativados promovendo assim
um encontro do enunciado com o interlocutor.
Diferentes
gêneros são produzidos em diversos contextos sociais e cada texto cumprirá sua
função a que se destina conforme o objetivo esperado na comunicação (sequências
discursivas), a exemplos; ensinar alguém a fazer um bolo para uma festa de
aniversário de casamento, oferecer determinado produto para ser comprado pelo
consumidor, anunciar a chegada do horário de verão, contar uma história para
uma criança dormir, publicar o resultado de uma prova afim de que os estudantes
saibam se conseguiram ou não aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio,
divulgar os resultados da eleição para que o povo saiba quem será o novo
prefeito de sua cidade, em fim são infinitos gêneros e infinitas razões para a
produção de um texto.
Tendo
elaborado todo esse processo mental o autor realiza um planejamento daquilo que
será o produto final de sua intenção de comunicação por meio da seleção do
gênero que servirá como viés dessa interação entre o produtor e leitor. Após a
seleção do gênero eleito para o projeto de dizer do produtor e a representação
que ele faz de seus interlocutores são manipuladas sequências textuais
(SCHNEUWLY & DOLZ, 2004) para tornar a intenção em ação. Entre a escrita de
uma folha e outras, várias palavras poderão permanecer ou desaparecer de um
texto (reescrita), é o momento da organização das ideias, respeitando- se a
continuidade sequencial dos fatos e os vocábulos pertinentes ao tema. Esse
aspecto é primordial para a compreensão de um texto, pois dele dependerá a
coerência do corpo textual, caso contrário perderá sua finalidade.
Ao
solicitar a produção de um texto é necessário que o professor faça uma
contextualização do assunto a ser abordado, verificar o processo de
escrituração, o erro não deve ser visto como algo negativo (escrita como
processo retórico-gramatical), pois deve ser utilizado como um termômetro para
a verificação dos objetivos alcançados, providenciar estratégias de
intervenções didáticas e, inclusive, dar um “feed-back” para que os alunos
compreendam “o porquê do erro” (FREIRE, 1997).
O
docente deve conceber a abordagem da escrita como um processo textual
direcionando a compreender os mecanismos de coerência e coesão textuais,
buscando atentar para o funcionamento das macroestruturas do texto acerca da
textualização, pois a construção de um texto implica saber o quê, para quê,
como e para quem escrever. Para isso professor deverá direcionar o aluno para
reconhecer no universo dos gêneros textuais (DIONÍSIO, 2005), qual deles melhor
atende suas necessidades de comunicação e, por conseguinte, proporcione ao
aluno uma escrita que venha contribuir para sua inserção no mundo
contemporâneo.
Assim
sendo, verifica-se a propriedade dos gêneros como um mega instrumento
privilegiado para utilização da prática docente, com vistas a promover um
trabalho com sequências didáticas ou projetos de ensino interdisciplinares,
onde a abordagem da escrita deve servir acima de tudo possibilitar aos
discentes condições para identificar e recuperar informações literais,
despertar o senso crítico, formular hipóteses interpretativas por meio do
desenvolvimento de competências e habilidades diante de inúmeras situações de
informações, que surgem a cada momento no mundo globalizado, propiciando-lhes
oportunidades e igualdades sociais para exercer á plena cidadania.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN,
Mikhail M. - Os Gêneros do discurso, in Estética da criação verbal- Ed.
Martins Fontes, 1997, p. 279.
DIONÍSIO,
Angela Paiva e outros. Gêneros Textuais
e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
FREIRE,
Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
MARCUSCHI,
Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 2. ed. São
Paulo: Parábola Editorial, 2008.
MARCUSCHI,
Luiz Antônio. Linguística de texto: O Que é e Como Se Faz. Recife: Editora da
UFPE, 1983.
SCHNEUWLY,
Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, São
Paulo: Mercado de Letras, 2004. p. 95-12
