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1 de outubro de 2014

“PERSPECTIVAS PARA ABORDAGENS DA ESCRITA”



                      TÍTULO: “PERSPECTIVAS PARA ABORDAGENS DA ESCRITA”

O ato da escrita envolve uma sequência de procedimentos cognitivos e ativação neurolinguística. A apropriação da escrita é um processo complexo e multifacetado, que envolve tanto o domínio do sistema alfabético/ortográfico quanto à compreensão e o uso efetivo e autônomo (MARCUSCHI, 2008) da língua escrita em práticas sociais diversificadas. O processo cognitivo é acionado a partir da intenção de produção do texto com o objetivo de realizar a comunicação (processo de interação entre emissor e receptor) desejada para aquele texto.

Para Bakhtin (1997), todas as atividades humanas estão relacionadas ao uso da língua e daí a diversidade de usos e, consequentemente, a diversidade de gêneros que se apresentam inumeráveis. O autor também salienta que toda essa atividade se apresenta por meio de enunciados concretos e únicos que emanam dos integrantes de uma ou de outra esfera da atividade humana. A variedade de uso da língua interliga-se à variedade de situações e contextos da vida cotidiana.

Nesse sentido, ensino-aprendizagem da escrita não pode ser desvinculado daquilo que o aluno já sabe sobre o assunto, cujo tema seja o foco das práticas de redação. A escrita não pode ser concebida como algo desvinculado da vivência de mundo daquele que a produz, mas necessita levar se em consideração os conhecimentos internalizados pelo indivíduo e o seu meio social, pois toda intenção de escrita surge da necessidade de comunicação entre o autor, o texto e seus interlocutores.

É segundo essa intencionalidade; que o produtor de um texto deverá observar os caminhos percorridos para torná-lo objeto de comunicação verificando as condições de produção, as vias de circulação do texto (local social), as informações que o receptor reconhece sobre o texto, os recursos que serão utilizados para que o mesmo venha contribuir para a prática social, ou seja, é preciso que o texto produzido tenha um significado real de contextualização para que certos conhecimentos apreendidos venham ser ativados promovendo assim um encontro do enunciado com o interlocutor.

Diferentes gêneros são produzidos em diversos contextos sociais e cada texto cumprirá sua função a que se destina conforme o objetivo esperado na comunicação (sequências discursivas), a exemplos; ensinar alguém a fazer um bolo para uma festa de aniversário de casamento, oferecer determinado produto para ser comprado pelo consumidor, anunciar a chegada do horário de verão, contar uma história para uma criança dormir, publicar o resultado de uma prova afim de que os estudantes saibam se conseguiram ou não aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio, divulgar os resultados da eleição para que o povo saiba quem será o novo prefeito de sua cidade, em fim são infinitos gêneros e infinitas razões para a produção de um texto.

Tendo elaborado todo esse processo mental o autor realiza um planejamento daquilo que será o produto final de sua intenção de comunicação por meio da seleção do gênero que servirá como viés dessa interação entre o produtor e leitor. Após a seleção do gênero eleito para o projeto de dizer do produtor e a representação que ele faz de seus interlocutores são manipuladas sequências textuais (SCHNEUWLY & DOLZ, 2004) para tornar a intenção em ação. Entre a escrita de uma folha e outras, várias palavras poderão permanecer ou desaparecer de um texto (reescrita), é o momento da organização das ideias, respeitando- se a continuidade sequencial dos fatos e os vocábulos pertinentes ao tema. Esse aspecto é primordial para a compreensão de um texto, pois dele dependerá a coerência do corpo textual, caso contrário perderá sua finalidade.

Ao solicitar a produção de um texto é necessário que o professor faça uma contextualização do assunto a ser abordado, verificar o processo de escrituração, o erro não deve ser visto como algo negativo (escrita como processo retórico-gramatical), pois deve ser utilizado como um termômetro para a verificação dos objetivos alcançados, providenciar estratégias de intervenções didáticas e, inclusive, dar um “feed-back” para que os alunos compreendam “o porquê do erro” (FREIRE, 1997).

O docente deve conceber a abordagem da escrita como um processo textual direcionando a compreender os mecanismos de coerência e coesão textuais, buscando atentar para o funcionamento das macroestruturas do texto acerca da textualização, pois a construção de um texto implica saber o quê, para quê, como e para quem escrever. Para isso professor deverá direcionar o aluno para reconhecer no universo dos gêneros textuais (DIONÍSIO, 2005), qual deles melhor atende suas necessidades de comunicação e, por conseguinte, proporcione ao aluno uma escrita que venha contribuir para sua inserção no mundo contemporâneo.

Assim sendo, verifica-se a propriedade dos gêneros como um mega instrumento privilegiado para utilização da prática docente, com vistas a promover um trabalho com sequências didáticas ou projetos de ensino interdisciplinares, onde a abordagem da escrita deve servir acima de tudo possibilitar aos discentes condições para identificar e recuperar informações literais, despertar o senso crítico, formular hipóteses interpretativas por meio do desenvolvimento de competências e habilidades diante de inúmeras situações de informações, que surgem a cada momento no mundo globalizado, propiciando-lhes oportunidades e igualdades sociais para exercer á plena cidadania.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail M. - Os Gêneros do discurso, in Estética da criação verbal- Ed. Martins            Fontes, 1997, p. 279.

DIONÍSIO, Angela Paiva e outros.  Gêneros Textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.         

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 2. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: O Que é e Como Se Faz. Recife: Editora da UFPE, 1983.

SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2004. p. 95-12