Sala de aula Tradicional x Sala de aula Construtivista
A teoria behaviorista popularizada por B.F. Skinner (apud NCREL, 1997) continua conduzindo a maioria das práticas educacionais. Por mais de um quarto de século, as escolas e os professores estabeleceram objetivos e metas. Os currículos foram estabelecidos em uma seqüência rigorosa, acreditando que a melhor maneira de aprender era através da reunião de pequenos conteúdos de conhecimento e então integrá-los em conceitos mais amplos. As práticas de avaliação eram focadas na medida do conhecimento e das habilidades, com pequena ênfase no desempenho ou entendimento. Por outro lado, os pesquisadores cognitivistas afirmam que a melhor maneira de aprender é construindo o seu próprio conhecimento.
Desta forma, as salas de aula construtivistas devem proporcionar um ambiente onde os estudantes confrontam-se com problemas cheios de significado porque estão vinculados ao contexto de sua vida real. Resolvendo estes problemas, os estudantes são encorajados a explorar possibilidades, inventar
soluções alternativas, colaborar com outros estudantes ou especialistas externos), tentar novas ideias e hipóteses, revisar seus pensamentos e finalmente apresentar a melhor solução que eles puderam encontrar. Esta abordagem contrasta com as salas de aula behavioristas, onde os estudantes estão passivamente envolvidos em receber toda a informação necessária a partir do professor e do livro texto. Ao invés de inventar soluções e construir o conhecimento durante este processos, os estudantes são ensinados a procurar a "resposta certa" segundo o método do professor. Segundo esta idéia, os
estudantes não precisam nem verificar se o método usado na solução dos problemas tem sentido (NCREL, 1997) .BENAIM (1995) salienta o paradoxo existente entre a filosofia tradicional e a
filosofia construtivista. Na visão tradicional, o conhecimento é concebido como uma representação do mundo real, existindo separado e independentemente da pessoa que o retém. O conhecimento é considerado "verdadeiro" somente se refletir este mundo independente. O construtivismo, por sua vez, escapa desta tradição , desistindo da idéia de conhecimento independente do indivíduo e enfatiza o conceito de conhecimento baseado na experiência no mundo real de coisas e relações básicas para nossa adaptação à vida.
STEFFE e GALLE (apud BENAIM (1995) apresentam as visões do aprendiz e do professor, sob o ponto de vista construtivista. Para estes autores, o aprendiz, ao invés de um absorvedor passivo da informação, é visto como um indivíduo ativamente engajado na construção do conhecimento, trazendo consigo seu conhecimento anterior para enfrentar as novas situações. Os debates entre os alunos são considerados como oportunidades para desenvolvimento e organização do pensamento. O diálogo, os jogos e as pesquisas são valorizadas. Existe uma ênfase na colaboração como um meio
de estimular a busca de um consenso entre os vários significados encontrados e construídos pelos estudantes. O foco não está mais no que o estudante sabe, mas inclui suas convicções, seus processos de pensamento e concepções de conhecimento. Por outro lado, o professor é visto tanto como um apresentador do conhecimento como um facilitador de experiências. Sua tarefa pedagógica é
criar situações de aprendizagem que facilitem a construção individual do conhecimento. Ao contrário da atividade tradicional de valorizar a memorização das "respostas corretas", os professor considera o conhecimento "pré-existente" para mediar o processo de construção do conhecimento. Além disso, o professor encoraja os estudantes para desenvolverem seus próprios processos de busca de novos desafios. Como o conhecimento é adquirido sem um roteiro definido e dificilmente existe uma única solução para um problema, as abordagens metodológicas requeridas são mais reflexivas. FINEMANN e BOOTZ (1995) salientam que, na teoria construtivista, ocorre um deslocamento do centro do conhecimento de uma fonte externa ao aprendiz para um local residente em seu interior. A colaboração torna-se crítica porque é importante reconhecer a perspectiva única de cada estudante e apoiar a negociação social do significado. Quando o aprendiz dialoga, cada estudante fica exposto a múltiplas perspectivas do ambiente, aprofundando seu entendimento através da interação com os outros. O papel do professor também se desloca da figura autoritária para a figura de mentor.
BROOKS e BROOKS (apud DOWLING, 1995) fazem uma interessante
comparação entre as salas de aula "tradicionais" e as "construtivistas",
apresentadas no quadro 1. Quadro 1 - Características das Salas de Aula Tradicional versus Construtivista Sala de aula Tradicional Sala de aula Construtivista. O currículo é apresentado das
partes para o todo, com ênfase nas habilidades básicas O currículo é apresentado do todo para as partes, com ênfase nos conceitos gerais O seguimento rigoroso do currículo pré-estabelecido é altamente valorizado Busca pelas questões levantadas pelos alunos é altamente valorizada As atividades curriculares baseiam-se fundamentalmente em livros texto e de exercícios.As atividades baseiam-se em fontes primárias de dados e materiais manipuláveis.Os estudantes são vistos como "tábulas rasas" sobre as quais a informação é impressa.Os estudantes são vistos como pensadores com teorias emergentes sobre o mundo. Os professores geralmente comportam-se de uma maneira
didaticamente adequada, disseminando informações aos Os professores geralmente comportam-se de maneira interativa, mediante o ambiente estudantes[ "Um sábio sobre o palco"]para estudantes.
["Um guia ao lado"]O professor busca as respostas corretas para validar a aprendizagem.O professor busca os pontos de vista dos estudantes para entender seus conceitos presentes para uso nas lições
subsequentes.Avaliação da aprendizagem é vista como separada do ensino e ocorre, quase que totalmente, através de testes Avaliação da aprendizagem está interligada ao ensino e ocorre através da observação do professor sobre o trabalho dos estudantes Estudantes trabalham fundamentalmente sozinhos Estudantes trabalham fundamentalmente em gruposGARDNER (apud DOWLING, 1995) afirma que uma forma de integrar os princípios construtivistas nas salas de aula é através da realização de "projetos". Segundo este autor, ao longo das aulas os alunos realizam milhares de testes e desenvolvem habilidades que muitas vezes se tornarão inúteis depois do último dia de aula. Em contraste, o desenvolvimento de um projeto envolve a observação da vida fora da escola, propiciando aos estudantes a oportunidade de organizar os conceitos e habilidades previamente estabelecidos, utilizando-os a serviço de um novo objetivo ou empreendimento.
Em relação à avaliação, BROOKS e BROOKS (apud NCREL, 1995) afirmam que o professor, durante uma avaliação numa sala de aula construtivista, deve preocupar-se mais em entender o pensamento do aluno sobre o tópico do que dizer "não" quando o aluno não fornece a resposta correta sobre o que está sendo questionado. Os construtivistas acreditam que a avaliação deva ser usada como uma ferramenta para auxiliar na aprendizagem do aluno e na compressão do professor sobre o que o aluno está entendendo no momento.
Da mesma forma, os pesquisadores afirmam que a avaliação não pode ser usada como uma ferramenta que faz com que os estudantes sintam-se bem em relação a si mesmos ou provoque desistências em outros.
BROOKS e BROOKS (apud NCREL, 1995) apresentam uma lista dos princípios que devem guiar o trabalho de um professor construtivista.
Os professores construtivistas:
1. encorajam e aceitam a autonomia e iniciativa dos estudantes
2. usam dados básicos e fontes primárias juntamente com materiais manipulativos, interativos e físicos.3. usam a terminologia "classificar", "analisar", "predizer" e "criar" quando estruturam as tarefas
4. permitem que os estudantes conduzam as aulas, alterem estratégias instrucionais e conteúdo
5. questionam sobre a compreensão do estudante antes de dividir seus próprios conceitos sobre o tema.
6. encorajam os estudantes a dialogar com o professor e entre si
7. encorajam os estudantes a resolverem problemas abertos e perguntarem uns aos outros.
8. estimula que os estudantes assumem responsabilidades
9. envolvem os estudantes em experiências que podem envolver contradições às hipóteses inicialmente estabelecidas e estimulam a discussão
10. proporcionam um tempo de espera depois de estabelecer as questões
11. proporcionam tempo para que os estudantes construam relações e metáforas
12. mantém a curiosidade do aluno através do uso frequente do modelo de ciclo de aprendizagem.
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(Disponível em: http://penta.ufrgs.br/~luis/Ativ1/SalaTradxConstr.html#dowling
Acesso em: 12 mai. 2013.)
