PROCEDIMENTOS DE LEITURA UTILIZADOS PARA AQUISIÇÃO DE NOVOS VOCÁBULOS
Os vocábulos de uma língua se organizam em grandes conjuntos, segundo diferentes critérios: formais (fônicos ou morfológicos) e semânticos. O estudo dos campos associativos partindo de um vocábulo foi analisado por Saussure; para ele, "Um termo dado é como o centro de uma constelação, o ponto onde convergem outros termos coordenados, cuja soma é indefinida". Um campo associativo é formado por uma rede de associações por semelhanças, por contiguidade e é extremamente aberto, pois as associações não têm limites.
O exercício da leitura não é uma tarefa fácil, requer do leitor uma ativação da memória linguística em relação ao que está sendo exposto e não é somente isso, outros mecanismos devem ser considerados para que o leitor esteja em interação com o autor do texto, a um bom exemplo, podemos citar a significação, pois a partir da necessidade de utilização desenvolve-se o interesse (KLEIMAN, 1999). Para qual finalidade o texto ou a apreensão de um novo vocábulo deve ser apresentado ao aluno? Onde o aluno poderá utilizar a nova palavra apresentada? Qual relação existe entre o significado da palavra e o significado de mundo do aluno? Os textos apresentados aos alunos oferecem os subsídios necessários à compreensão global do vocabulário (decodificação de signos, interpretação de itens lexicais e gramaticais, agrupamentos de blocos conceituais, identificação de palavras-chave, seleção e hierarquização de ideias, associação com informações anteriores, antecipação de informações, elaboração de hipóteses, construção de inferências, compreensão de pressupostos, controle da velocidade, focalização da atenção, avaliação do processo realizado e reorientação dos próprios procedimentos mentais utilizados)?
Essas questões devem ser pontuadas e analisadas pelo professor de Língua Portuguesa em estratégias de leitura como prática ou intervenção didática voltada para ampliação do vocabulário, pois só terão significados para o aluno se houver uma contextualização do novo vocábulo ensinado ao seu universo cultural. Para tal essas estratégias devem garantir que o aluno seja capaz de relacionar o seu conhecimento de mundo ao conhecimento exigido e utilizado pelo autor do texto, são determinadas por ações que o professor deve realizar para ativação dos conhecimentos prévios, ou seja, auxiliar o aluno na recuperação de informações possibilitando-lhe realizar o levantamento de hipóteses acerca do assunto abordado.
Outro ponto importante a ser destacado no planejamento efetuado pelo professor em situações de aprendizagens envolvendo estratégias de leitura é a seleção dos textos que serão utilizados, ou dizendo de outra forma, textos que favorecem a predição ou antecipação de temas ou as formas de texto que serão explorados. Nesse quesito o ideal é que essas estratégias sejam elaboradas visando à exposição dos alunos aos vários gêneros textuais (MARCUSCHI 2007), pois as palavras não são estáticas elas exercem diferentes valores e significados de acordo com o local social onde são veiculadas, e a partir daí é possível que o aluno reconheça a finalidade do gênero apresentado, a esfera de comunicação a qual ele pertence, em que meio social está veiculado, contribuindo assim à predição de ideias do que será apresentado no texto e ao mesmo tempo corroboram para a realização de inferências contidas no texto seja de forma implícita ou explícita.
Ao elaborar estratégias de leitura destinadas a aquisição de novos vocábulos pelos discentes é fundamental que o professor além de observar os expostos acima, também tenha pleno domínio sobre o assunto do texto que será abordado em sala de aula. Para tal deverá efetuar uma seleção de títulos, temas e tipologias verificando qual ou quais serão mais adequados aos seus propósitos de ensino, considerando o perfil da classe, o nível de maturidade, o conhecimento de mundo e a relação existente entre o texto/vocabulário com seu alunado. Situações de aprendizagem envolvendo os alunos à construção de frases ou pequenos parágrafos de forma autônoma, mesclando diferentes gêneros e finalidades, a reescrita de parágrafos, construção de textos, caça palavras, construção de sinônimos, bingo de palavras, palavras cruzadas, motivação e indicações de livros diversos ou avaliações dissertativas onde é possível diagnosticar o nível vocabular do aluno também constituem excelentes práticas pedagógicas.
Assim sendo, urge a necessidade do professor de Língua Portuguesa priorizar em suas aulas, práticas didáticas destinadas à aplicação de estratégias de leituras em todas as séries e níveis de aprendizagem, compreendendo que a leitura constitui uma atividade muito interativa, altamente complexa na produção de sentidos (que são realizados para além dos parâmetros textuais) cuja compreensão requer também a ativação e mobilização de um conjunto de diversos saberes adquiridos para recuperação de informações e conhecimentos prévios; entendendo também, a importância de incentivar e cultivar o hábito de leitura em seus alunos, pois a aquisição do letramento no seu sentido global é alcançada quando o indivíduo possuir competências e habilidades linguísticas para fazer uso das palavras em diversos contextos de produção ou situações de comunicação. Caso contrário, a apresentação de um novo vocábulo ao aluno será apenas uma informação a mais, porém não fará parte de seu repertório linguístico porque não houve relação ou significação entre a palavra e seu contexto de mundo.
Referências Bibliográficas
KLEIMAN, A. Texto & Leitor - Aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1999.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela P., MACHADO, Anna R, BEZERRA, Maria A; (orgs.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Ed. Cultrix, 1.975.
